quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Artigo - AS DUAS FACES DO TERRORISMO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O mundo em luto mais uma vez, lamenta uma tragédia que amedronta e ameaça o direito à livre expressão. E à própria democracia. Terroristas movidos pelo fanatismo religioso, quem sabe apenas usando a religiosidade como pretexto, mas movidos por outros sentimentos e ideologias, não hesitaram em matar. Como sempre fazem. O que sabemos é que se trata de mais um ato injustificável para uma sociedade pretensamente civilizada.
Entretanto, não podemos deixar de analisar essa questão por um ponto de vista que a própria humanidade ignora: o velho direito que acaba onde começa outro direito. Quando no Brasil, aquele pastor do qual nunca procurei saber o nome chutou em rede nacional uma imagem de culto dos católicos, a revolta foi unânime. E tinha que ser. Nenhuma democracia permite ao cidadão agredir ou zombar da fé alheia. Mas também é revoltante quando católicos e evangélicos se unem para oprimir a umbanda, o espiritismo e outras expressões da fé. Quando os ateus impõem a todos os religiosos a pecha de idiotas, ou todos os religiosos fazem o mesmo aos ateus. Criticar com respeito e até reclamar, não ofende, mas estabelecer um deboche contínuo, agredir como pode e fazer brincadeiras com o que há de mais sagrado para um grupo ou uma sociedade, que é a sua religião, não é correto. Além de não ser correto, é assumir um risco, pois todo grupo religioso é composto por pessoas moderadas, indulgentes e bem resolvidas, mas também por fanáticos raivosos e dispostos a qualquer loucura por sua crença.
Buda, Maomé, Gandhi, Jesus Cristo, Allan Kardec e todos os outros ícones da fé jamais incitaram o ódio. A essência de todas as manifestações religiosas é a paz. As guerras são metafóricas ou espirituais; travadas contra entidades além dos olhos e das mãos, conforme a crença de cada um. Pessoas não são demônios; os possíveis inimigos de nossas almas não são os seguidores de outras crenças ou fés. Pensar assim é o começo do ódio, da intolerância e dos combates entre seres humanos, e isso depõe contra todos os ensinamentos religiosos fundamentados.
Ninguém tem o direito de zombar da fé, tanto quanto a fé não tem o direito de oprimir os que não a têm. Não é antidemocrático ter de respeitar o próximo. Se não podemos ofender por etnia, orientação sexual e classe econômica, por que seria diferente com a religião? A democracia ou a liberdade de expressão permite os questionamentos contra o que nos oprime, humilha ou apavora; não contra tudo o que simplesmente nos desagrada ou não é de nosso gosto.  
Estes questionamentos não são de um religioso. São de um antirreligioso; um cético, no que tange as orientações espirituais disponíveis. Portanto, questionamentos sinceros de quem protesta, critica e até zomba dos poderes constituídos, que são o grande telhado de vidro do mundo inteiro. Cabem perfeitamente no contexto de qualquer crítica literária, artística ou especializada. No entanto, este cético há muito aprendeu a respeitar os ícones da fé, seja ela qual for; mesmo essas que o ser humano abraça com fanatismo. 
Ofender ou perseguir sistematicamente os alvos, ícones ou objetos de crença configura terrorismo religioso. Evidentemente, o terrorismo incitado pelo fanatismo que odeia e mata é muito pior. Estou de luto com o mundo, pelos jornalistas assassinados. Ninguém entenda o oposto... nem acrescente meu texto, palavras que não escrevi.

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