O REDATOR E AS MANIFESTAÇÕES ANÔNIMAS

São muitos os comentários que chegam ao REDATOR,  mas a maioria não tem identificação. É um direito do leitor, e é nosso dever saber o que publicar ou não. A população tem direito a esse anonimato, quando tem medo das pessoas e/ou instituições que denuncia ou contra as quais protesta. Quem assiste a noticiários da tevê, por exemplo, sempre vê depoimentos de pessoas cujos rostos estão à sombra ou protegidos por mosaicos, e cujas vozes estão distorcidas. 

Em Magé, o povo tem medo do poder público e de certo modo entendemos, diante do histórico, ao longo dos anos, de retaliações também anônimas, praticadas contra pessoas que resolveram não aceitar desmandos e torná-los públicos. Que acharam justo apontar a corrupção e a ilegalidade, ou que simplesmente passaram a protestar contra os atos questionáveis de autoridades. Não podemos acusar este ou aquele político ou assessor do presente ou do passado, pois não há provas, mas as coincidências justificam o medo da população: um dia alguém denuncia, aponta nomes, gera especulações e dias depois sofre alguma forma de "aviso" que surge não se sabe de onde.

A imprensa que se opõe ao poder público em Magé também sofre retaliações, embora mais criteriosas e veladas. Essas retaliações tomam caminhos judiciais enviesados. Sabem aquelas coincidências de quando o jornal noticia desmandos, ilegalidades, ou questiona atos do executivo ou legislativo e logo depois seu diretor recebe uma intimação de algum outro órgão?

Infelizmente, estamos quase anônimos nesta matéria, diante da delicadeza secular da situação. Os passos do poder contra nossas convicções, nossa missão e alcance tem suas sutilezas. Seus caminhos contornados, embora saibam, no nosso caso, que não têm o que temer que não seja a nossa exposição da verdade. Não somos imprensa que retalia ou ameaça. Só informa.

Por essa delicadeza de situação, estamos no campo do histórico político desta cidade. Dos quase quinhentos anos de sua existência. Seja como for, continuaremos a fazer nosso trabalho, pelo menos enquanto o poder das influências não nos impedir por algum instrumento oficial. E continuaremos a dar aos leitores o direito ao anonimato, em nome do seu medo justificável, repetimos, considerando históricos.

Mas nunca daremos a quem quer que seja, o direito à calúnia; à ofensa pessoal; ao que extrapole as leis e a ética da imprensa e a constituição federal. Dos comentários anônimos continuaremos a publicar, como sempre, apenas os publicáveis; os que utilizam estritamente o seu direito ao desabafo; ao manifesto da indignação; do desconforto. E quem quiser elogiar, não precisará do anonimato.