quinta-feira, 27 de março de 2014

ARTIGO - REPRESSÃO NUNCA MAIS

Demétrio Sena, Magé - RJ.

São inúmeros os que desejam ver de volta o velho pau-de-arara; instrumento oficial de tortura nos tempos da ditadura militar. Nessa época muitos artistas, intelectuais, ativistas políticos da oposição e cidadãos comuns confessaram crimes que não cometeram. Abriram mão da inocência e foram parar nas celas, solitárias e covas rasas reservadas a quem simplesmente não concordava com o regime de governo.
Era no pau-de-arara - e nas mortes que serviam de exemplo - que os lacaios oficiais ou simples puxa-sacos do governo mantinham a suposta ordem nacional. Tinham controle dos desejos e das manifestações populares. Eram donos da verdade instituída. Faziam sangrar o patriotismo que não era patriotismo. Era medo. Sobrevivência.
Querem de volta o pau-de-arara, os que serviram à ditadura. Os filhos dos que serviram à ditadura. Os "ordeiros" intransigentes e inimigos da democracia nos pontos em que ela os incomoda. Os que não suportam a voz das massas; das diferentes classes; da cidadania em si, porque tudo expõe suas nódoas; a distorção do seu caráter; sua natureza tirana, preconceituosa e fanática. Separatista e perdida no tempo.
Quem quer o retorno do pau-de-arara é inimigo da denúncia. Do jornalismo investigativo. Da crítica literária. Da educação irrestrita e ampla. Da arte, a cultura em um todo, como formas de manifestação política e social. Do pensamento livre. Da expressão organizada, inteligente. Morre de pavor da inteligência. Do conhecimento sem fronteiras.
Os nostálgicos da ditadura querem voltar a calar as vozes que se levantam em nome da razão. Querem ser novamente os algozes do brio, da vontade própria e da verdade popular. São fantasmas tristonhos dos velhos tempos que ficaram nas ferragens da história, quando bateram em alta velocidade contra o próprio equívoco. 
É certo que a democracia também tem seus buracos. Não cura o caráter doentio dos maus políticos, policiais, professores, empresários, maus cidadãos que são tantos, mas também não cala nossa voz. Não impede que sejamos quem somos e gritemos contra desmandos, injustiças, impunidade, pelas mais diversas formas de manifestação.
Nenhum cidadão de bem tem saudades da ditadura. Querer de volta o pau-de-arara é querer que ninguém discorde. É ser incomodado com a liberdade alheia. Tentar impedir a manifestação do outro, quando essa o remete às próprias mazelas. Ficar ofendido com a manifestação legítima de quem compõe, canta, faz literatura, esculpe, atua, pinta e borda como formas criativas de crítica e protesto.

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