Período de dois anos separa as duas maiores tragédias aéreas do país
Lucas Redecker *
O período de dois anos separa as duas maiores tragédias
aéreas do país. Entre elas, há em comum as falhas decorrentes de
problemas técnicos e a falta de preparo dos pilotos para lidar com essas
situações.
No caso do voo JJ 3054 da
TAM, que no dia 17 de julho de 2007 matou 199 pessoas ao colidir contra
um prédio em Congonhas, a posição dos manetes e o reverso pinado
impediram a frenagem do avião que girou ante a falta de ranhuras na
pista. De lá para cá, o sinal de alerta indicador da posição dos manetes
passou a ser item obrigatório.
Quanto
ao acidente com o voo da Air France, que resultou na morte de 228
pessoas em 2009, foi descoberto que a causa teve origem na incapacidade
de reação dos pilotos frente as diversas falhas ocorridas. A aeronave
mergulhou no mar depois do congelamento das sondas que informam a
velocidade e a altitude, além da desconexão do piloto automático.
A
modernização e a automação cada vez maiores das aeronaves não dispensa
as empresas de treinarem a tripulação para lidar com as dificuldades.
Estamos falando de máquinas. E máquinas falham, quebram ou param de
funcionar. Elas não são autossuficientes, dependem da ação do homem. Por
isso, dá exemplo a justiça francesa, ao indiciar a Airbus e a Air
France como responsáveis pelo acidente de 2009, pois cabia a elas o
treinamento dos pilotos, também vítimas do sistema. O contrário ocorreu
no acidente com o voo da TAM, onde a Airbus e a Infraero nada sofreram, o
que é lamentável.
Em terra, não são
menores os problemas nos aeroportos. A derrapagem de aviões no aeroporto
de Congonhas dias antes do acidente com o voo da TAM, por exemplo,
deveria ter servido de alerta, mas foi ignorado, assim como a proibição
de pouso com o reverso pinado em dias de chuva. Um novo alerta foi dado
esta semana, mostrando que há 45 obstáculos na rota de aproximação dos
aviões em Congonhas, com potencial para provocar acidentes. Mas o que
será feito com essa informação? Provavelmente nada, porque o pensamento
vigente é o de que não irá acontecer nada. E se acontecer, não será
punido, a exemplo do voo JJ 3054.
Quis o
destino, por uma dessas ironias da vida, que meu pai fosse vítima do
apagão aéreo contra o qual lutou até o fim. Como que num presságio
funesto, ele já alertava para os perigos dos aeroportos e a urgente
necessidade de mudanças. Cinco anos depois da tragédia em Congonhas,
pouca coisa mudou. As famílias ainda esperam punição para os culpados e
os aeroportos continuam caóticos, com tendência a piorar. Só a saudade e
a sensação de impunidade que não mudam.
* Lucas Redecker é deputado estadual e familiar de vítima do voo da TAM
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