segunda-feira, 18 de junho de 2012

C R Ô N I C A

BETO PERERÊ

Demétrio Sena, Magé - RJ.

O Beto foi um Saci Pererê de pele clara e duas pernas. Molequinho raquítico, pequenino, mas era mais ágil do que um gato vira-latas; daqueles que atacam panelas nos fogões e ninguém segura, por menores que sejam as cozinhas. 
Depois que passou dos nove ou dez anos, resolveu que nunca mais apanharia dos irmãos mais velhos, dos moleques da rua nem dos parentes adultos. Tornou-se debochado, briguento e muito escorregadio. Quem tentava “limpar a mão” na figura fisicamente frágil, pálida e russa do meu irmão, espumava de raiva: O Beto jamais corria para longe; não tentava fugir do perseguidor, por mais forte que fosse. Ao invés disso driblava, passava por baixo das pernas, rodeava o sujeito e ria dele. Ria muito e com trejeitos exagerados. Ridicularizava e fazia desistir por força do cansaço. Parecia uma sombra; um fantasma; um duende.
Quando não estava metido nessas encrencas ou brigando nas esquinas, nem aí se aquietava: Pendurava de cabeça para baixo em árvores; quebrava pedras britadas com os dentes; dava saltos triplos; pegava cobras vivas, com as próprias mãos, para dar sustos nos outros... Fazia muitas; muitas outras arruaças.
Mas um dia o Beto cresceu... Conseguiu crescer. Driblou também o destino, que muitos previam ser negativo. Passou por baixo das pernas da má sorte. Zombou dos problemas graves, deu a volta por cima, por trás, e chegou ao presente. Bom irmão, bom pai, trabalhador, pacato e pacífico.
Seja como for, mesmo agora não aconselho ninguém a tentar “limpar a mão” no Beto. Ele pode por um momento, só por um momento, que já será o bastante, resgatar o Beto Saci para dar um cansaço no infeliz... Apenas um cansaço.

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