quarta-feira, 16 de maio de 2012

DIRETORES ESCOLARES E REJEIÇÃO A LIVROS

Demétrio Sena, Magé - RJ. 

Uma das minhas não muitas atividades extras é o contato com escolas, para realização de feiras literárias. Um trabalho do qual gosto muito, porque julgo levar aos alunos dessas escolas um evento importante; fundamental para sua formação como leitores e cidadãos do mundo. Pouco importa se a criança vai ou não comprar livros, o simples contato com os inúmeros títulos disponíveis e a vivência que a feira literária lhes proporciona já é algo bastante lúdico. Levamos cultura e possibilidade; sonho e fomentação do hábito e do desejo de ler.
Mas ninguém pense que se trata de um trabalho fácil. Por estranho que seja, são muitas as escolas cujos diretores têm rejeição a qualquer evento cultural. Especialmente quando a estrela desse evento é o livro. A literatura. Surgem tantas desculpas, que seria enfadonho enumerá-las. Desculpas que não são dadas, pelo menos com tanta convicção, quando quem vai à escola é um vendedor de bugigangas, de produtos piratas  e afins, que são prontamente consumidos por grande parte dos educadores, bem à vista dos alunos. 
E nesse trabalho de propor feiras literárias, ouço de alguns educadores coisas das quais ouvido. Hoje mesmo, a diretora de uma escola municipal no bairro Pau Grande afirmou que não gosta de feiras literárias, porque fazem o aluno sonhar com o que não pode ter. Ou seja: Sonhar com livro. Leitura. Conhecimento. Argumentei que o evento por si só já é importante para o aluno, e que as escolas os levam à bienal para comprarem ou não livros, pela importância do contato com os títulos e com quem escreve, edita ou distribui. Salientei que no meu caso, levo até à escola um pedacinho de bienal, sem qualquer imposição de compra ou apelo comercial. Sua contra argumentação foi espantosa: "A minha escola, não; não levo nenhum dos meus alunos à bienal. É perda de tempo". 
É claro que desisti. Tenho parceria com a Secretaria de Educação da cidade, para realizar tal trabalho, mas creio que não vale a pena realizá-lo em uma escola que só abriria as portas por força da obrigação. Uma escola cuja direção não fomenta nos seus alunos o desejo de ler e ter livros. Ao invés disso, fomenta em suas cabeças, em seus corações, o conceito de que o livro e o "luxo" da leitura não estritamente didática são realidades distantes. Não pertencem ao mundo de alunos pobres; que frequentam escolas da rede pública.
Estupefato, mas educadamente, me retirei. Não havia mais nenhum argumento que pudesse derrubar a muralha daquela ignorância. Não podia dizer àquela educadora o que pensava dela, sob pena de responder judicialmente. Nem podia lhe perguntar o que está fazendo na direção de uma escola, pois ela mesma não saberia me responder.

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