Salvatore D'Onofrio
A Folha de
São Paulo assim resume o artigo de Antonio Carlos Will Ludwig "Retorno à
moral e cívica" (Ilustríssima, 14/4):
"Autor analisa o crescente
apelo à educação militar no país e apresenta sugestões de cooperação
entre professores civis e as Forças Armadas com vistas a aperfeiçoar a formação
dos alunos, sem que se abra mão dos valores democráticos". O assunto é
de importância nacional, merecendo
comentários a respeito, antes que se tomem medidas desastrosas, tipo facilitar
o porte de armas. Em primeiro lugar, dever-se-ia averiguar se o citado apelo a
uma educação militar de nossas crianças
vem da massa popular ou de quartéis que querem ocupar espaços didáticos com
fins políticos.
A
tentativa de incluir na grade curricular uma matéria específica para ensinar
educação moral e cívica já fracassou várias vezes, inclusive em regimes
ditatoriais, por não encontrar docentes especificamente preparados para isso.
Como alguém pode ter a pretensão de saber ensinar uma disciplina que ele não
teve na graduação nem na pós? Quando obrigatória, a disciplina de educação
moral e cívica foi ministrada por sociólogos, filósofos, políticos, militares,
religiosos, historiadores e outros... improvisadores! Pelo que eu saiba, tal
disciplina não existe no rol escolar de nenhum país democrático e civilizado,
visto que a educação de um povo não pode estar a cargo de uma disciplina
curricular, implicando a colaboração da família e da sociedade como um todo.
O
articulista justifica a inclusão da disciplina para sairmos da "degradação
ética" em que vivemos. Mas como se pode degradar o que nunca existiu? A
maioria do nosso povo ainda não chegou a ter uma consciência cívica, que nos
faça dar mais valor ao bem público do que a interesses individuais ou de
grupos. Lembro que, há mais de meio século, ao visitar minha irmã casada com um
inglês, sua filhinha de quatro anos mexeu nas flores do jardim da universidade
de Cambridge, ao que o pai a repreendeu severamente, dizendo "this is not
possible, is public"! Educação moral e cívica é isso: ensinar a respeitar
o que é dos outros; trabalhar para que outro não seja obrigado a trabalhar dobrado;
não ter filhos se não puder criá-los decentemente; não reeleger políticos
desonestos ou incompetentes; pensar com sua própria cabeça, sem acreditar
piamente em mitos religiosos ou políticos, usando o raciocínio lógico, a
verdade histórica, as descobertas da ciência. Para isso, mais do que a volta da
polêmica disciplina de educação moral e cívica, precisamos de escolas em tempo
integral, onde nossas crianças, além de estudarem as matérias curriculares,
exercitem artes e esportes.
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