terça-feira, 18 de outubro de 2016

Opinião - Cármen Lúcia não se definiu, mas eu a defino

Por Mario Sabino*


Ontem, a ministra Cármen Lúcia, recém-empossada presidente do Supremo Tribunal Federal, deu uma simpática entrevista ao programa Roda Viva. 


A parte de que mais gostei foi quando ela fez a defesa da liberdade de imprensa. Tal como Thomas Jefferson, entre governo sem imprensa ou imprensa sem governo, a ministra escolheria a segunda opção (no lugar de “governo", Cármen Lúcia usou “boas leis”).


Eu não gostei quando, perguntada se era liberal ou conservadora, a ministra respondeu que era uma “juíza mineira”. Os entrevistadores riram, mas eu fiz uma careta de desaprovação.



Para além do aborrecido clichê da “mineirice”, acho que não há problema nenhum em alguém definir-se liberal ou conservador. Na Suprema Corte americana, as posições de cada juiz são conhecidas e eles não as escondem quando confrontados com determinadas questões em entrevistas. Isso não os faz “parciais”, porém transparentes.


Cármen Lúcia recusou-se a dizer se era liberal ou conservadora, mas está claro que ela é liberal em questões comportamentais e dura no trato da coisa pública, por mais que alguém possa opinar que tenha escorregado aqui e ali. Eu defino Cármen Lúcia uma conservadora moderna. Na minha opinião, trata-se de um excelente perfil.


Por último, embora não menos importante, Cármen Lúcia também me agrada porque compartilha a ideia de Simone de Beauvoir segundo a qual “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. O socialista fabiano aqui acredita que, num país machista como o Brasil, é muito importante ter alguém que pensa assim na presidência do STF.


“Juíza mineira”, não, ministra. A senhora é melhor do que isso.


* Do portal O Antagonista
 

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