Site o Mangue publicou há bem pouco tempo matéria extensa e esclarecedora sobre as arbitrariedades da operação ilegal batizada como Calçada Limpa, da Prefeitura de Magé, que teria como principal objetivo a arrecadação de recursos para a candidata do governo municipal Nestor Vidal, para deputada, Sônia Sthoffel. Para mais detalhes, leia abaixo a quase íntegra da matéria. A imagem também é do Site O Mangue.
Pelo menos desde o começo do ano, o assunto
que vem ganhando as estreitas ruas de Magé é a chamada Operação Calçada Limpa,
mais conhecida como “Operação Reboque”. Oficialmente apoiadas pela Secretaria
Municipal de Transportes, mas lideradas na prática pela Secretaria Municipal de
Segurança Pública, as retiradas de veículos estacionados em lugares proibidos
vêm sufocando motoristas e gerando muita receita e polêmica. Não é incomum se
ouvir, por exemplo, que, mais do que uma tentativa de se pôr ordem ao passeio público
(“nos moldes do Rio de Janeiro”), a operação na verdade tem como fim a
arrecadação de fundos para o financiamento de campanha da candidata do governo
municipal a uma vaga na Alerj, Sônia Oliveira (ex-secretária de governo, e que
na carreira política utiliza o sobrenome de casada: Sthoffel).
Muitos são os que reclamam (também nas redes
sociais) do valor destinado à operação (o contrato da Prefeitura com a firma
prevê gastos, em um ano, de quase um milhão de reais), dizendo que tal montante
deveria ser aplicado em prioridades como a Saúde e a Educação, serviços que
ainda deixam tanto a desejar em Magé. Outras conjecturas já incidiram sobre um
seriado de supostas irregularidades da administração pública no desencadeamento
das ações, dentre as quais: participação de policiais militares e guardas de
trânsito não credenciados para a operação, policiais militares conduzindo motos
apreendidas ao depósito municipal (quando deveriam conduzir a depósitos
estaduais e não pilotando, e sim em cima do reboque), “vista grossa” dos
agentes de trânsito para carros oficiais e de amigos estacionados
indevidamente, a não regulamentação do depósito municipal, a danificação de freios
de mão dos veículos durante o reboque, o sumiço de pertences no interior dos
veículos, já que até pouco tempo os mesmos não eram lacrados (também não existe decreto municipal
versando sobre isso), acordos secretos entre donos de estacionamentos, e políticos
etc.
MP instaura Procedimento Preparatório
Não à toa o Ministério Público Estadual,
através da 3ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Itaboraí-
Magé, já se pronunciou sobre o caso, emitindo uma nota no dia 13 de junho, que
diz: “Foi instaurado no âmbito do Ministério Público,
no dia 13 de maio do corrente ano, o
Procedimento Preparatório 28/2014, com o objetivo de apurar as denúncias de que
veículos estariam sendo apreendidos e conduzidos, indevidamente, ao depósito
público municipal desta comarca. O procedimento ainda está em fase de apuração
dos fatos, prestação de esclarecimentos por parte do Procurador Geral do
Município e averiguação do título que vem embasando essas apreensões, se de
fato são ilegais”. Assinada pela promotora de Justiça Anna Carolina Vieira
Lisboa Fernandes, a nota, enviada por email, prossegue: “Confirmadas as
irregularidades, serão adotadas pelo Parquet as medidas
extrajudiciais/judiciais que se revelarem cabíveis”.
Vereadores acionam MP
A promotoria, no entanto, preferiu não
comentar o Ofício-Denúncia encaminhado a ela pelo gabinete do vereador Léo da
Vila no dia 27 de maio. Além de Leo, assinam o documento: Eliane Sepúlveda,
Geraldo Gerpe, Vandro Família e Carlinhos da Ambulância (este último, o único,
entre os 17 vereadores a se intitular “de oposição”). Carlinhos, inclusive,
mandou confeccionar adesivos criticando a operação. Já outros parlamentares,
que por um motivo ou outro não assinaram o documento, deixaram registrado na
Tribuna sua insatisfação, como o vereador Silmar, que recentemente se indispôs
com um guarda de trânsito que queria rebocar o carro de seu genro, que ao que
parece, estaria dentro das legalidades. O ofício aponta para supostas
infrações, que acabam recaindo sobre o Poder Executivo, dentre as quais: “os
motoristas são compelidos ao pagamento de todas as multas que pesem sobre o
veículo para sua liberação, em flagrante desrespeito ao verbete de nº 510 da
súmula de Jurisprudência do egrégio Superior Tribunal de Justiça”. Ou: “a
empresa que realiza o reboque, administra o depósito e recebe tal valor dos
contribuintes não emite recibo (…), em flagrante ato que, em tese configura
crime contra a ordem financeira e tributária”. Ou ainda: “as ruas situadas no
perímetro urbano são (…) desprovidas de placas sinalizatórias (…) e ainda assim,
diversos veículos estão sendo rebocados (…) em flagrante abuso de autoridade”.
O próprio secretário de Segurança Pública,
Sérgio Venâncio, que já admitiu um lucro para os cofres municipais, de R$ 30
mil por mês com as multas (quando os reboques eram feitos ainda sem a
terceirização da empresa!), já foi convidado por duas vezes a comparecer à
Câmara Municipal de Magé para prestar esclarecimentos. A primeira audiência foi
marcada para 30 de abril, e a segunda para 15 de maio. Em ambas o secretário
faltou sem enviar justificativas; e nova data deverá ser marcada.
Apesar de recusar o convite, o secretário
seria peça fundamental para dar luz a uma sucessão de questionamentos
que pairam sobre a operação. Por exemplo, no
dia 17 de fevereiro, durante a reunião do Comitê do Consórcio Intermunicipal de
Segurança da Baixada Fluminense (que aconteceu na Câmara de Magé), ao anunciar
o sistema de reboques que o município estava implantando, o secretário disse
que não sabia “qual seria a empresa a ser contratada”. Porém, o Boletim
Informativo Oficial (BIO) número 465 torna público que no dia 13 de fevereiro (portanto
quatro dias antes da declaração do secretário) houve um Pregão Presencial, que
deu origem à Ata de Registro de Preços em nome da empresa ADM Golden Car Multimarcas
LTDA ME, com sede na Av. Dom Helder Câmara, 3885, em Del Castilho. O valor do
aluguel de seis reboques (“e seus respectivos operadores”) ficou fixado em R$
987.782, 40. Há quem diga que daria pra comprar um carro de reboque por mês durante
um ano.
Mas o fato termina revelando uma situação
talvez ainda mais grave: o BIO 465 só foi publicado entre 16 e 31 de março,
logo, a publicidade dada ao
processo pode ser questionada na Justiça. Não
há vestígios sobre o edital de Convocação ao Pregão, nem informações sobre
outras empresas que tenham participado. Em Armação dos Búzios por exemplo, o
atraso nos BIO (lá chamados de BO – Boletim Oficial) está levando o prefeito e
médico
André Granado (PSC) a sofrer pedido de
impeachment pela Câmara Municipal. Lá, os edis descobriram um esquema que
desviou mais de R$ 20 mil dos cofres públicos, beneficiando a empresas que
participavam de licitações sem que essas fossem devidamente divulgadas, por
causa de “atrasos” no BO.
Prefeitura fere o Código Nacional de Trânsito
Não haveria espaço para a reportagem publicar
todas as histórias de motoristas contra a Prefeitura de Magé, ouvidas nos
últimos dias. A advogada Juliana Magalhães, sócia no escritório Mello de
Almeida Advogados Associados, tem sido muito procurada para representar tais
casos. E detalha alguns dos infrigimentos da Lei que a Prefeitura vem
praticando: - Para aplicar os Autos de Infração não basta ser guarda de
trânsito concursado, tem que ter Portaria, identificação da credencial; e o
município tem que ser credenciado junto ao Sistema Nacional de Trânsito, coisa
que não temos a certeza se é ou não. As guias não trazem nenhuma indicação dos
outros
órgãos – explica Juliana, acrescentando:
- O carro de uma pessoa foi rebocado, e como
a Prefeitura não emite nenhum comunicado nesses casos (ao contrário do que
acontece em muitos municípios), ela pensou que o carro houvesse sido furtado e
foi na delegacia registrar queixa. De lá
sugeriram que ela fosse ao depósito municipal
procurar. O carro estava lá, mas se recusaram a receber os valores (R$ 134,33
do reboque e R$ 54,27 de diária), dizendo que era ponto facultativo e não havia
ninguém na Prefeitura. Mas como que para rebocar não existe ponto facultativo
nem final de semana? Isso foi no feriadão da Páscoa, e o carro teve que ficar
lá por quatro dias. Eu entendo isso como apreensão, e não remoção. Prefeitura
não pode apreender, isso é prerrogativa do estado. A medida administrativa para
veículos removidos em lugares proibidos, de acordo com o Código de Trânsito
Brasileiro, é apenas multa. Não é uma penalidade, não é apreensão. Apenas
retira-se o veículo para liberar o trânsito. Uma vez que a pessoa
esteja disposta a pagar, a Prefeitura não
pode se negar a receber, seja porque não há funcionários, seja porque o sistema
está fora do ar. Além do mais, o BIO que deveria informar sobre o ponto
facultativo, só foi circular no mês seguinte. A advogada lembra que danos
materiais e/ou morais que porventura ocorrerem, também devem ser alvos de ação
judicial:
- Por exemplo, há casos em que o freio de mão
dos veículos voltam danificados e eles nem sequer informam aos proprietários. A
pessoa percebe, fala com eles, e só aí dizem para procurar uma determinada
oficina. A oficina em questão é a Glaucio Car, cuja especialidade é elétrica e
som. Ela fica situada na Avenida Ayrton Senna, no primeiro distrito. Lá os
funcionários confirmaram que fazem o serviço, porém não emitem nota fiscal pelo
mesmo. A Advogada ainda percebe uma falha no Ofício-Denúncia enviado pela
Câmara ao MP:
- É bom deixar claro que o valor das diárias
do reboque é arrecadado pela Prefeitura, e não pela empresa em questão.
Juliana cita a primeira coisa que a pessoa
deve fazer para recorrer das multas: procurar a JARI – Junta Administrativa de
Recursos de Infrações, que, no caso funciona na própria Secretaria Municipal de
Segurança Pública. Ela lembra também que a pessoa tem o direito de retirar seus
pertences de dentro
do carro antes dele ser rebocado (embora em
alguns casos isso também não venha sendo observado), e também de retirar o
veículo do local proibido, caso chegue a tempo. E mais: - O artigo 24, inciso
10, do CTB, diz que “cabe ao município implantar, manter e operar sistema de
estacionamento rotativo pago nas vias”. Isso não acontece aqui. Quem sabe, se
isso acontecesse por aqui, a funcionária da Câmara Municipal Renata Rangel não precisasse
ter seu carro roubado. Era um domingo por volta das 18h, quando o padre
interrompeu a missa para pedir que os fieis fossem retirar seus carros da rua,
pois a Prefeitura estava levando-os. Renata achou que não era preciso retirar
seu Gol, pois ele estava em lugar legal. Mas, pra sua triste surpresa, ao
chegar no local pra ir embora, o veículo não estava lá. E também não estava no
depósito municipal. “Meu carro foi furtado bem na hora e no lugar que acontecia
a Operação Reboque”, fala Renata.
Talvez, por tanta polêmica, a operação tenha
dado um tempo, coisa de uns dez dias. Mas nessa semana voltou com força total,
inclusive em lugares onde andava de forma tímida, como Santo Aleixo. Ascom não
comunica, mas articula Projetos de Leis. Bem que a reportagem tentou
entrevistar o secretário Sérgio Venâncio, porém ele foi impedido pela
coordenadora (que faz as vestes de
secretária) de Comunicação, a jornalista (como gosta de ser chamada) carioca
Marcia Rosário. Esta pediu que a reportagem lhe enviasse a “pauta” do encontro
ao seu email, no que de pronto foi atendida, recebendo não só “a pauta”, mas as
próprias perguntas, para que escolhesse: ou enviasse as respostas ou marcasse
uma entrevista. Porém, a coordenadora, já conhecida pela imprensa local por
esconder boa
dose de arrogância por trás do riso forçado,
mais uma vez agiu com desdém. De posse das perguntas do site O Mangue, ao invés
de providenciar as respostas, tratou de confeccionar mensagens do Executivo
para que a Câmara Municipal vote em caráter de urgência, assuntos como a
regularização do depósito municipal. O projeto deve ser votado na semana que
vem, numa tentativa de continuar a operação. Até, quem sabe, esta seja
“rebocada” de vez pelo MP.
Em tempo: o Sr. Alexandre, gerente do Detran
em Magé, preferiu não gravar entrevista.
Perguntas enviadas à Márcia Rosário no último
dia 16, e que ela se recusou a responder:
1 – Qual nome da empresa que atua
terceirizando o sistema de reboques no município? Desde quando ela atua e como
foi o processo de licitação (peço
uma cópia da publicidade dada à abertura do
processo licitatório).
2 – Durante a reunião do comitê de segurança
na Câmara Municipal de Magé, no dia 26 de fevereiro (portanto antes da empresa
começar a atuar), o secretário Sérgio Venâncio informou que o município estava
arrecadando em média trinta mil reais por mês com multas de trânsito. Quais os
números
atualizados a partir da efetivação da
empresa, e o que comprova a aplicação de parte desses valores em forma de
benefícios ao município?
3 – Qual documentação comprova que o
município de Magé está credenciado ao Sistema Nacional de Trânsito para que
esteja apto a emitir multas?
4 – Existem Portarias do município que
deleguem poderes aos agentes de trânsito para estes poderem aplicar os autos de
infração? Em caso positivo, é
possível ver as publicações?
5 – Qual dispositivo (decreto?) regulariza o
funcionamento do depósito municipal?
6 – Porque é comum ver Policiais Militares
chegando ao depósito conduzindo veículos, uma vez que o depósito é somente
municipal e a maneira correta do veículo chegar é em cima dos reboques e não
conduzido por terceiros? Já houve casos de os próprios proprietários dos
veículos acompanharem situações como essa, aparentemente irregular.
7 – Qual procedimento as pessoas devem ter
para recorrer das multas, caso sintam-se injustiçadas?
8 – Existem casos em que o município vem
confundindo remoção com apreensão? Por exemplo, nos finais de semana os
funcionários do pátio têm se recusado a liberar os veículos, alegando que a
Prefeitura não está funcionando.
9 – Há casos em que a Polícia Militar atua no
reforço às operações? Se sim, é possível o acesso às cópias dos ofícios
enviados ao 34º BPM requisitando tal apoio?
10 – Como se dá a negociação com a oficina Gláucio Car, para reparos nos freios de mão danificados durante a operação?
Porque ela foi escolhida para tal fim e porque o proprietário se recusa a dar
notas fiscais dos serviços prestados?
11 – O município concorda que algumas
questões legais foram esquecidas, na hora de colocar a operação em prática? Por
exemplo, há uma lei do Código de Trânsito Brasileiro que versa sobre a
obrigatoriedade de os municípios manterem Estacionamentos Rotativos.
12 – Segundo uma promotora do Ministério
Público, um Procedimento Preparatório já foi instaurado para averiguar as
questões relativas a operação reboque. O município já foi notificado? Qual é a
opinião do Secretário quanto a isso?
so uma palavra impeachment
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