segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Artigo - AS DURAS PENAS DO APRENDIZADO HUMANO

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Vejo em alguns jovens dotados de talento artístico ou literário, aquela pretensão que só hoje reconheço lá no passado, em algum tempo de minha juventude. Fui um jovem pretensioso. Com aparência humilde, fala mansa e pautada, porém sonso. Quase nunca me misturava com as pessoas realmente humildes de coração; e quando o fazia, era para impor personalidade. Queria sempre, com sutileza e disfarce, catequizar as pessoas ao meu redor para que se adequassem aos meus gostos pessoais e me admirassem. Só assim os considerava merecedores de minha amizade, aquiescência, ou da pretensa honra de participar do meu grupo cada vez mais escasso. Afinal de contas, eu não passava de um chato.
Ao invés de amigo, era líder; tinha sempre um bondoso ar superior; gostava de corrigir falas, posturas, ideologias e gostos. Fugia constantemente das boas conversas fúteis. Só batia "papo-cabeça". Levava um medo sobre-humano de ser bobo e só queria saber de filmes profundos; poemas rebuscados; músicas intelectuais ou de protestos. Nada que vinha do exterior podia ser melhor do que a cultura nacional. Se tivesse oportunidade, incendiava o McDonald's. Se conhecesse o Paulo Coelho, mataria. Jamais reconheceria como genial uma obra elaborada por um artista ou escritor que já fosse reconhecido publicamente como brega. Era escravo da crítica especializada e não dava o braço a torcer para nenhum grande projeto social, se ele fosse de um ativista ou político da direita. 
Hoje não sei se ainda sou um chato, mas acho que aprendi um pouco. Pelo menos um pouco. Talvez o suficiente para não ser solitário. Já sei me dobrar à sabedoria natural do menos letrado. Como educador, aprendi a me educar com os alunos. Já não imponho meus escritos; exponho. Pergunto mais do que afirmo. Ouço mais do que falo. Dou mais atenção do que exijo. Mais valor à mensagem do que à correção gramatical de um texto. Ouço mais o que fazem do que o que dizem. Aprecio qualquer canção que me faça bem, não importa o estilo. Basta me fazer bem; seja pela mensagem, o ritmo, a lembrança que traz ou outra sensação que me dê prazer. E o que me dá prazer neste momento não tem que ser o que me abone como intelectual, profundo, inteligente ou descolado. Aprendi a me misturar e absorver o que há de bom na mistura. Demorei, mas acho que agora estou crescendo; e talvez a tempo.
Não posso criticar esses jovens dotados de talento, que hoje vejo como num retrovisor. Eles estão se construindo, como tive a chance de fazer. Evidentemente, não gosto de pensar no que ainda sofrerão por se cultuarem tanto; por se tornarem solitários entre a multidão; por se auto excluírem nos seus andores, que são de barro, vão se quebrar um dia, quebrando-os junto. Mas, como acabei de afirmar, eles estão se construindo... e poderão se reconstruir, como acho que me ocorre. E se apenas o tempo foi capaz de me dar esta lição, não posso nem pensar em aplicá-la por conta própria, sob pena de estar desaprendendo o que aprendi até hoje.

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