sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ARTIGO - OS DOIS LADOS DA BANDIDAGEM

Demétrio Sena, Magé - RJ.

Se excluirmos o agravante da violência explícita que a própria ilegalidade gera, chegaremos a uma conclusão ao mesmo tempo espantosa e lógica sobre os bicheiros, contrabandistas e traficantes de drogas:esses "trabalhadores" da informalidade super marginalizada pelas conveniências politicossociais nada mais são do que os grandes concorrentes dos governantes.
Na minha opinião, o que marginaliza esses "empresários" tortos e seus servidores é a imposição da sobrevivência sob o signo das armas, em um submundo no qual o poder de fogo é o verdadeiro poder, bem como as negociações escusas com os mais fortes potencialmente, que são os políticos e os policiais corruptos. Também os marginaliza a falta de critério e limite na comercialização de seus produtos, que não poupa crianças e adolescentes.
Quanto ao mais, a única diferença que vejo entre tais atividades, os jogos lotéricos dos governos, a indústria e o comércio de tabaco e bebidas alcoólicas é a legalidade. Os danos sociais são quase os mesmos, ainda que os ilegais não paguem impostos; pois afinal, convenhamos: o atraso, a miséria, o índice de analfabetismo e a escassês de saúde no Brasil, onde os impostos são absurdos e ninguém consegue sonegá-los ao consumir produtos de primeira necessidade, não são causados pela sonegação. O grande problema é a corrupção de quem recebe, contabiliza e aplica os impostos. Infelizmente, concluo que grande parte desses impostos está em contas particulares nos paraísos fiscais; outra grande parte aqui mesmo, aplicada em bens pessoais, e a menor parte, muito mal aplicada no progresso, nas melhorias e no bem estar do cidadão comum, trabalhador, maior pagador de impostos.
Ninguém conclua nem finja concluir que faço apologia ao crime, à contravenção e à sonegação de impostos. O que faço é a depreciação da hipocrisia. Evidentemente, sou contra o tráfico das drogas ilegais, tanto quanto a fabricação e o comércio das drogas legalizadas, que também destroem a sociedade. Condeno a jogatina das casas marginalizadas e a das instituições lotéricas, que são as meninas-dos-olhos do poder público e também viciam; enganam; fraudam. Deploro ainda os mistérios bancários dos juros sobre juros; das "bolas-de-neve"; das armadilhas que lesam; ludibriam a clientela mais simples, com o amparo da lei, exatamente como fazem os agiotas, sem o amparo da lei, razão pela qual estabelecem leis próprias de intimidação física, o que também deploro.
Em um mundo igualitário, de fato igualitário, não existiriam bicheiros, contrabandistas, traficantes, ladrões ou agiotas... não existiria ilegalidade ou contravenção, porque ninguém ou quase ninguém sonegaria impostos justos ou se rebelaria contra o poder enxuto; livre dos bandidos oficiais que abarrotam a política e outras instituições que lesam a humanidade... muito menos contra uma sociedade humana, inclusiva e realmente fraterna.
Mas tudo é uma questão de começo, e o mundo não começou agora... Será que dá para recomeçar? Será que todos nós (inclusive os que  sempre levam vantagem) desejamos isso? 

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