quarta-feira, 28 de março de 2012

DE SANTO ALEIXO PARA O MUNDO


Em meio a muitas dificuldades, o ainda menino Jacques Rocha descobriu que o simples ato de cantar aliviava o seu sofrimento e trazia paz. Ele agora tem 34 anos, e aquele dom para o canto, aflorado lá na infância, está em vias de transformá-lo em um fenômeno devidamente reconhecido no cenário da música lírica mundial, segundo maestros e professores que sabem o que dizem.
Jacques é filho de professora e um pedreiro. Bem cedo aprendeu muito que a vida pode ser bem difícil. Pior ainda, quando não se tem paixão por fazer algo. Quando ele tinha oito anos de idade sua a mãe teve um aneurisma. Depois vieram outras doenças como a hipertensão e sete derrames seguidos. Por ser filo amoroso e dedicado, ele se tornou arrimo de família. Sempre cuidou da mãe, e ainda ajudou a criar o irmão mais novo, que hoje tem quinze anos de idade. E foi nos momentos de maior angústia que Jacques recorreu à música lírica, passando a cantá-la para si mesmo. O curioso é que ele não tinha discos de músicas do gênero e na sua família não há ninguém para o público, nem mesmo como amador.
Sendo negro e de família humilde, nascido e criado em um bairro isolado das metrópoles – O distrito de Santo Aleixo, no município de Magé – Jacques tem o perfil massificado de quem não deveria gostar de ópera. Isto, por causa do preconceito que ainda impera no mundo. Mas aos dez anos ele já era apaixonado por música clássica. Passou toda a sua infância ouvindo óperas em um radinho de pilha. Sua estação preferida sempre foi a Rádio MEC FM. Jacques demorou a buscar o ensino do canto lírico, mas quando o fez, foi aprovado imediatamente pela banca de exames da escola de música Villa-Lobos. Na época, tinha vinte e um anos. Seu primeiro professor de música, Joel Teles de Souza, 60 anos, definiu desta forma o talento do cantor: Ele é dono de uma voz excepcional. Pode se tornar o próximo grande nome do canto erudito. A professora de canto Teresa Fagundes, procurada por Jacques há menos de dois anos, para apurar a técnica, diz que o cantor é uma das maiores descobertas, dos últimos tempos: “Ele tem uma voz generosa e superagudos fáceis. Jacques supera todas as expectativas. Pode ser o nosso Pavarotti”.
No ano de 2008, durante uma audição pública, Jacques conseguiu ser aprovado para o coro do Municipal. Foi muito elogiado pelo diretor artístico interino e regente titular da orquestra sinfônica do Municipal, o maestro Silvio Viegas. Participou de três óperas como solista, e todos ficaram impressionados com o poder de sua voz. Fernando Bicudo, que é diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, disse que Jacques é uma forte promessa para o canto lírico. Afirmou que ao ouvi-lo cantando pela primeira vez a ópera "A filha do regimento", de Donizetti, ficou muito impressionado. “Ele alcança notas como Pavarotti”. Fernando Bicudo garantiu que não vai faltar trabalho para Jacques. No dia 6 de maio, às 15 horas, no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, o cantor vai abrir a temporada da OSB, com a primeira audição no Brasil, da ópera "O rei pastor", de Mozart.
O tempo, o talento de Jacques e a sua persistência farão o restante. A nós, mageenses, cumpre a torcida sincera pelo seu sucesso. Também cabe a todos nós, mageenses de berço e/ou coração, cobrar do poder público maior incentivo para as artes e a cultura e geral. Certamente, a surpresa será tamanha. São muitos e muitos talentos em todas as áreas da cultura, enterrados no esquecimento e no abandono.

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