Demétrio Sena
Quem um dia procura um agiota, precisa ter em mente que ele não é uma instituição bancária legal. Em primeira instância, trata-se do maior amigo do endividado, pois ele oferece crédito a quem está negativado no SERASA, no SPC, no rol de amigos e até na família.
No entanto, esse maior amigo do endividado não tem as garantias das instituições legais que podem, baseadas na lei, tomar seu carro, sua casa e seus outros bens... Um deles, a sua vida; não exatamente como faz o agiota, mas de formas transversais. Quantas pessoas já não deram cabo da própria vida, quando se viram falidas pelos juros sobre juros dos bancos, dos cartões de crédito e das financiadoras? Quantas outras não se tornaram moradores de ruas ou foram parar nos sanatórios, depois de falidas por essas mesmas instituições oficiais que no acúmulo de juros, multas, moras e taxas em nada perdem para os criminosos clandestinos?
Vou além e afirmo que às vezes o agiota é mais honesto e transparente que as instituições. Seus contratos verbais ou acordos de cavalheiros não têm letras miúdas. Quem o procura sabe disso e mesmo assim o procura, conhece bem as condições de pagamento e as consequências do calote, mas na hora do sufoco não quer pensar nisso. Depois, quando não tem como cumprir, foge do lugar onde mora ou vai à polícia prestar queixa. Essa é a suprema ironia do ramo da agiotagem: É a única ocasião em que o algoz consumado e assumido põe a vítima na cadeia. O sujeito mal pagador vai à delegacia, diz ao delegado que deve, não nega e não vai pagar, e o delegado manda prender a única pessoa que deu crédito e socorreu a quem já não contava com ninguém.
Isto não é um crítica, pois é a lei. Principalmente a lei da concorrência, pois o governo não tolera os jogos de bicho e de maquininhas, porque concorrem com os jogos lotéricos; os agiotas, porque fazem frente aos bancos e as instituições bancárias; os piratas, de uma forma geral, porque reduzem bastante as deduções das empresas. Dos operadores legais. Tudo, enfim, pela questão dos impostos; da subtração do tesouro público. Tesouro este que deveria, mas não é usado para o bem comum; para que o país não seja pobre; para que as pessoas não precisem, entre outras coisas, dos agiotas. Não há nenhuma preocupação com essas pessoas que sofrem ou morrem pelas mãos desses criminosos, e sim, com tudo o que o governo deixa de ganhar por causa das atividades econômicas ilegais. Dinheiro que deixa de ir para os bolsos dos ladrões constituídos e vai parar nas contas dos ladrões transversais.
Por falar em contas, no fim das contas o indivíduo simples que acaba nas mãos ou malhas das instituições financeiras, multiplicando suas dívidas em equações inimagináveis, não tem para onde correr. Sendo assim, acaba chegando ao lugar comum em que se correr o banco pega, se parar o agiota come. A verdade maior nessa história toda, é que nenhum país bem governado precisaria ter pessoas com vidas ameaçadas por outras pessoas ou empresas, por dívidas comuns. Refiro-me a dívidas feitas pelo desespero de quem se vê na iminência de não ter como alimentar, agasalhar, dar abrigo e proteção à família nos próximos dias.
É da miséria que vivem os agiotas. Todos os agiotas. Tanto estes, amparados pela dura lei instituída, quanto aqueles que se garantem no poder da intimidação física. Na velha ostentação de uma arma. Na sua fama de quem não perdoa: Mata... Também mata.
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