domingo, 20 de janeiro de 2019

MARCELO YUKA: ALMA ARMADA E APONTADA PARA OUTRO PLANO

Imagem pescada na web
Ele tinha PORTE DE ALMA. De uma doce alma sempre armada de amor e inquietação, apontada para a cara do sossego diante das injustiças sociais. Dos desmandos de um país. Das desigualdades que imperam no Brasil. Foi O cantor e compositor Marcelo Yuka, cujo corpo foi enterrado no Cemitério de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, domingo 20 de janeiro de 2018, Foi homenageado por fãs que lotaram o local para prestar a última homenagem.
Como parte das homenagens, Pétalas de rosas foram lançadas sobre a sepultura, imediatamente após o caixão ser depositado. Assim como ocorreu durante o velório do cantor, músicas d'O Rappa foram cantadas em coro durante a última despedida. A última foi "Minha Alma", um dos maiores sucessos da banda.
"Marcelo era um filho maravilhoso, era um cara estudioso em tudo que ele fazia. Ele fazia as músicas pensando sempre em fazer algo que fosse durável e não descartável. Uma coisa que não fosse muito fácil para ganhar dinheiro, ele não teve aquele dinheiro que os grandes artistas têm, mas fez uma coisa que o povo tem uma tendência a lembrar mais. Ele ajudou a modificar comportamentos de muita gente, ajudou abrir a favela. Uma parte dele era preocupada com o social, o país e jovens. E a outra parte musical”. Disse emocionado, o pai de Marcelo Yuka, Djalma Santana.
Marcelo Yuka veio a falecer na noite de sexta-feira 18 de janeiro, vítima de complicações por um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Seu corpo foi velado durante todo o sábado na Sala Cecília Meireles, na Lapa, Centro do Rio.
Marcelo Yuka nasceu no bairro de Campo Grande. Lá ele aprendeu a tocar bateria, o instrumento que iria tocar por muitos anos na banda O Rappa, da qual foi um dos fundadores.
O cantor e compositor BNegão foi ao sepultamento e falou do amigo, a quem chamou de irmão: “Eu acho que ele cumpriu o papel dele de forma absurda. Se juntar todos nós que estamos aqui, não sei se dá ele. Em termos de contribuição pro ser humano, em relação a quantidade de gente que ele já ajudou. As pessoas não têm noção e vão ter isso com o tempo. Pra mim, ele é uma sementeira eterna. Agora que o corpo dele se foi e ele está em outro plano, uma árvore vai nascer e dar frutos por tudo que ele já fez”.
Até o momento de sua morte, Yuka estava internado em estado grave com um quadro de infecção generalizada. O músico sofreu um acidente vascular-cerebral (AVC) no dia 2 de janeiro. No meio do ano passado, ele já havia tido outro AVC. Ele era paraplégico desde 2000, em razão de um assalto na Tijuca, na Zona Norte do Rio, ao ser atingido por nove tiros.
A carreira
Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana, o Marcelo Yuka, nasceu no Rio de Janeiro em 1965. Ele foi um dos fundadores da banda O Rappa. Era o baterista e principal compositor da banda, até sua saída, em 2001. Chegou ao sucesso na banda, com o segundo disco, "Rappa Mundi", em 1996. Em 2000, foi atingido por tiros ao tentar impedir um assalto e ficou paraplégico.

O cantor e compositor escreveu letras sobre temas como violência urbana, racismo e desigualdades sociais. "Minha alma (a paz que eu não quero)", "Me deixa" e "Todo camburão tem um pouco de navio negreiro", por exemplo, foram escritas por ele. Mesmo estando impossibilitado de tocar bateria, Marcelo continuou na banda, lançando em 2001 o álbum “Instinto Coletivo”, gravado em um show que foi realizado antes de ficar paraplégico.No mesmo ano, deixou O Rappa e afirmou ter sido expulso pelos demais integrantes por não concordar com os rumos da banda. Logo depois, em 2004, fundou a banda F.u.r.t.o (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), parte de um projeto social que já existia na época de O Rappa.
Passados cinco anos, Marcelo foi vítima de outro assalto, no qual levou socos e pontapés de bandidos que tentavam levar seu carro. Ele chegou a ficar sob as rodas do veículo e só não foi atropelado porque os assaltantes não conseguiram dar partida, por se tratar de veículo adaptado para deficientes. Já no ano de 2017, lançou seu primeiro álbum solo, o CD "Canções para depois do ódio", optando por uma sonoridade que mesclava batidas eletrônicas e ritmos afro, fruto da parceria com o produtor e DJ Apollo 9. Os cantores e compositores Céu, Seu Jorge, Cibelle e Bukassa Kabengele participaram do disco.
No documetário "Marcelo Yuka no caminho das setas", de Daniela Broitman, lançado em 2012, os integrantes da banda explicam os motivos para o fim da parceria com o baterista. Um deles, segundo o vocalista Marcelo Falcão, seria o aprofundamento da relação do então colega com alguns movimentos sociais."O envolvimento do Yuka com os movimentos estava mais forte. Tinha a parada dele, do ativista, de querer ser o melhor para a galera e tal. Só que algumas bandeiras estavam usando ele." Marcelo Falcão, vocalista de O Rappa, disse que as composições de Yuka garantiram os maiores sucesso da banda.
"Eu acho que nós perdemos. O grupo perdeu e ele também perdeu, sabe? Porque um grupo é uma química. Um grupo você não encontra assim", lamentou Lauro, em um dos trechos do documentário.

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