segunda-feira, 29 de outubro de 2018

QUEM É WILSON WITZEL


Figura pouco conhecida no Rio até o primeiro turno das eleições, o governador eleito chegou lá surfando uma onda bolsonarista. Veja quais são suas propostas e o que pode mudar com ele no governo



Governador eleito quer extinguir secretaria de Segurança e criar rede de escolas estaduais militares

Figura pouco conhecida no Rio de Janeiro até o primeiro turno das eleições, o governador eleito Wilson Witzel (PSC) chegou lá surfando uma onda bolsonarista, associando-se à figura e às ideias do capitão reformado e, agora, presidente eleito. Azarão, só começou a aparecer de forma relevante nas pesquisas de intenção de votos no dia anterior ao primeiro turno.
Sua campanha foi marcada por declarações radicais, a exemplo da ameaça de dar voz de prisão ao seu oponente, Eduardo Paes (DEM), em caso de injúria durante debates e ao afirmar repetidas vezes que pretende permitir que policiais "abatam" pessoas que estejam portando fuzis.
Também teve grande repercussão o fato de que, num comício dele, deputados do PSL quebraram uma placa com o nome da vereadora assassinada Marielle Franco(PSOL). Witzel estava no palanque no momento do ato.
Em seu programa de governo, ele propõe políticas controvertidas na segurança pública - a área é uma das preocupações mais urgentes da população fluminense. Ex-juiz federal, licenciou-se do cargo para concorrer ao governo. Witzel tem 50 anos de idade, é católico e casado. Ele declarou à Justiça Eleitoral ter apenas um bem, um imóvel, no valor de R$400 mil. Foi fuzileiro naval, defensor público e hoje é sócio de um escritório de advocacia.
Witzel também foi alvo de polêmica com um filho transexual, que o acusou, numa entrevista ao jornal O Globo, de tê-lo usado para se promover.
A estratégia deu resultado, e Witzel foi eleito neste domingo com 59,87% dos votos válidos (ou 4,67 milhões, em números absolutos), ante os 40,13% de Paes (ou 3,1 milhões). Abstenções e votos brancos e nulos totalizam 4,59 milhões.
Veja algumas das ideias e propostas do futuro governador e entenda o que pode mudar com ele à frente da administração estadual.
Violência urbana
A principal proposta de Witzel para a segurança pública é extinguir a Secretaria de Segurança, que ele considera "burocrática", e fazer da Polícia Militar e da Polícia Civil secretarias independentes, subordinadas a um gabinete de segurança do qual fariam parte os chefes da PM, da PC e ele próprio.
Witzel adota discurso agressivo sobre a área de segurança. Seu tom foi endurecendo à medida que tentava se associar à figura de Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S.Paulo, feita em junho, o então candidato ao governo do Rio chegou a dizer ser contra a "política de confrontos" da Polícia Militar com traficantes.
Depois, passou a dizer que policiais terão autorização para "abater" uma pessoa que estiver portando fuzil, mesmo que a situação não seja de combate. Para isso, diz basear-se no Artigo 25º do Código Penal: "Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem".
Após anos de queda a partir de 2007, o número de mortes provocadas por policiais vem crescendo desde 2013 e, de forma mais drástica, desde 2015. Homicídios dolosos seguem a mesma tendência.
Em encontro fechado com membros das forças de segurança, Witzel prometeu, se necessário, "cavar covas" e fazer navios-presídio para criminosos. Entre outros projetos, o governador eleito sugere que sejam feitas intervenções nas favelas para facilitar a entrada da polícia e armar a Guarda Municipal nos municípios que assim desejem.
Ele é também a favor do armamento da população, concorda com uso de helicópteros para atirar em favelas durante operações policiais e mostra-se favorável a parcerias público-privadas para a gestão de presídios.
Seguindo a linha militarizante de Jair Bolsonaro, Witzel pretende criar uma rede de escolas estaduais militares - pelo menos uma por município. Para ele, a falta de disciplina em sala de aula ajuda a explicar o problema da educação no Estado. Também é contra a abordagem de temas como gênero e sexualidade na escola, na linha do movimento Escola Sem Partido.
Witzel é contrário à lei de cotas raciais, mas se diz a favor de cotas sociais. Em setembro, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou a prorrogação do sistema de cotas para os cursos de graduação nas universidades públicas estaduais do Rio por mais dez anos. O governador eleito disse, em sabatina, que a lei será cumprida.
Economia
O Estado vive grave crise financeira. Witzel diz que pretende renegociar a dívida com a União, cujo pagamento está suspenso por três anos, desde setembro de 2017, quando foi assinado um acordo com o governo federal.
Witzel diz que o Estado deve deixar de depender dos royalties do petróleo. Em seu programa, fala em criar maneiras de estimular o empreendedorismo, por meio de um programa intitulado AgeRio.
Carreira de juiz
Sócio de um escritório de advocacia, Witzel foi defensor público e juiz federal. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, nessa condição, recebia auxílio-moradia, apesar de ter um imóvel próprio na capital fluminense. A prática não é ilegal, mas magistrados que a adotam vêm sendo questionados no âmbito ético.
De acordo com o jornal, dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que ele recebia R$ 4.377 mensais pelo benefício, ainda que fosse dono de um imóvel no Grajaú, zona norte da cidade. Witzel disse que o auxílio é legal e que não tem apego a benefícios. Do contrário, não teria abandonado a carreira de juiz.
Em vídeo revelado pelo jornal O Globo no início do segundo turno, Witzel, durante uma palestra, ensina aos ouvintes uma "engenharia" para receber uma gratificação por acúmulo de funções. À imprensa local, o político negou ilegalidade.
Quando trabalhava na Vara de Execuções Criminais nos Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, Witzel disse, em entrevista dada ao portal G1 em 2011, que havia sido ameaçado de morte e por isso trocara de região. À época, era também diretor da Associação dos Juízes Federais (Ajufe). "Eles (criminosos) conseguiram me intimidar e isso me fere profundamente. Eles intimidaram um juiz federal. Tive de trocar de área para preservar minha vida. Desde que comecei a ser ameaçado, nunca mais deixei de usar colete à prova de balas", disse ele ao portal.

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