sábado, 14 de outubro de 2017

INQUISIÇÃO EVANGÉLICA NOS COLETIVOS DE MAGÉ

Nesta manhã de sábado, 14 de outubro, houve tensão em um coletivo dos que fazem a linha Magé/Pau Grande e vice-versa, motivada por intolerância religiosa. Tudo foi causado por uma daquelas pessoas que se anunciam aos gritos nos coletivos, como missionários evangélicos e representantes de certas instituições que ajudam menores, dependentes químicos ou moradores de rua; e com esse argumento oferecem saquinhos de balas ao valor de R$ 2. De quem não compra as balas, eles pedem qualquer valor, mediante apelo que não poucas vezes constrange os passageiros. Enquanto falam das instituições que representam, essas pessoas pregam fervorosamente o evangelho, quase sempre ofendendo umbandistas, católicos, não religiosos, homossexuais e pessoas de outros gêneros, com palavras duras;  agressivas; eivadas de ódio e preconceito.
Dessa vez, as ofensas do missionário não ficaram sem resposta. Um umbandista entre os passageiros demonstrou não gostar das ofensas e anunciou sua indignação. Como o missionário fingiu não ouvir e ainda reforçou as ofensas em alto som, o passageiro fez menção de filmar, para depois apresentar queixa. Foi aí que o missionário evangélico não fingiu. Ao contrário, mostrou o quanto é violento. Mandou que o passageiro encerrasse imediatamente a filmagem, ou iria se arrepender amargamente. Em seguida, chamou-o de servo do diabo e bradou palavras como muquirana, babaca e outros impropérios. Ao mesmo tempo em que ofendia o seu próximo, o dito representante do bem continuava a pregar o evangelho. Proferia um xingamento e fazia uma citação bíblica; mandava o outro ir a lugares que não é decente enumerar, e logo depois gritava uma frase de louvor. Com isso, demonstrava explicitamente que ali estava o sujeito perigoso e sem escrúpulos que ele e tantos outros dos mesmos grupos sempre dizem que foram no passado, e ora são novas criaturas, porque foram transformadas pelo evangelho.
Chegou-se ao ponto em que os passageiros dos coletivos das linhas municipais de Magé, queiram ou não queiram, têm que conviver com isso. Como maioria da população é evangélica, toda e qualquer pessoa evangélica, ou que finge, tem a proteção de quase todos, quando alguém se manifesta contrariado com suas ofensas em nome de Jesus. Quem é umbandista, espírita ou ateu, em alguns casos quem é católico, sofre diariamente o que não seria obrigado em um país com liberdade religiosa, porque teme retaliação da maioria. Sabe que a liberdade religiosa não existe para todos, pois nenhum umbandista, por exemplo, teria permissão para falar de sua fé em local público. Seria linchado, de alguma forma. E assim se repete a inquisição, que hoje pertence aos evangélicos fanáticos. Aos pentecostais raivosos. Aos detentores do preconceito e da intolerância, que falam de amor ao próximo, leem todos os dias um livro que fala do bem sem olhar a quem e salienta o amor incondicional de seu Deus, mas apenas leem e falam. Não amam. odeiam. Excluem. Escorraçam o próximo que não vive segundo suas ordens.
É preciso que os empresários da empresa TREL/Divina Luz/Iluminada reflitam sobre isso. Entendam que ainda pode haver uma tragédia dentro de um de seus veículos, causada por fanatismo, intolerância e preconceito. Pode ser que os proprietários da empresa também sejam evangélicos sinceros, devotos - do que não duvidamos, e não dissemos que não existem -, mas eles têm que prever o grave problema social que esse tipo de permissão pode gerar. Um problema que, repetimos, pode acabar em tragédia; crime. E se isso ocorrer, a empresa não terá como fugir da responsabilidade. Oferecer as balas e pedir doações não configuram problema, no entanto, deve haver uma proibição às pregações religiosas, às ofensas por qualquer tipo preconceito e à coação velada aos que não querem nem segurar os saquinhos de balas, "para incentivar".
Ou a empresa terá que permitir - e isso há de ser por lei, já que permite a um seguimento - que outras correntes religiosas cultuem suas crenças, por meio de representantes, nesses mesmos coletivos. E isso tem tudo para não dar nada certo. Sendo assim, é saudável que ninguém pregue nos coletivos, para que todos tenham o direito a uma viagem sossegada, sem constrangimento nem coação. Sobretudo, sem medo do corporativismo da maioria, que estará sempre ao lado de seus representantes legítimos ou ilegítimos, mas que falam o que a maioria quer ouvir. Isso vale para pregações, músicas religiosas em alto som no sistema dos coletivos, e distribuição de papeizinhos com mensagens sem noção de respeito. Pensem nisto. Ouçam bem o anúncio natural de um futuro grande problema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário