sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Crônica - ÁRVORES

Demétrio Sena, Magé - RJ.


Ao ver que a mangueira de meu quintal, mesmo frondosa, verdejante, cheia de vida não dava mangas, meu amigo deu a sugestão infeliz:
- Corte logo essa árvore, seu Demétrio; ela não presta; não dá frutos.
Argumentei sobre a sombra refrescante, a beleza da fronde, o verde que a mangueira ostentava enchendo aquele quintal de vida, poesia e pássaros... mas nada. Meu amigo batia o pé; reforçava o seu argumento: árvore que não dá frutos deve ser cortada. 
Se dependesse dele, as florestas seriam devastadas, de modo a só ficarem de pé as poucas árvores que ofereçam frutos próprios para o consumo pelos humanos. Quanto aos animais, morreriam todos. Uns, porque não podem ser comidos; e outros, para serem comidos.
- Não, amigo; não cortarei  minha mangueira. Tenho muita estima por ela, e considero frutos sagrados, sua sombra e beleza.
Visivelmente contrariado pelo insucesso de sua sugestão, meu amigo se foi, após uma despedida meio ranhenta. 
Considerando sua idade já um tanto avançada, e consequentemente a de sua companheira de muitos e muitos anos, confesso que às vezes me preocupa o que meu amigo possa pensar em fazer com ela, que já não lhe dá filhos... ou frutos...

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