segunda-feira, 21 de outubro de 2013

EDUCAÇÃO - ARTIGO

O FIM DOS “VESTIBULINHOS”

ELAINE DECCACHE PORTO E ALBUQUERQUE *
Realmente, é motivo de alegria a notícia de que as provas de seleção para a entrada de crianças no 1º ano do Ensino Fundamental não vão mais acontecer. Isso já é realidade em algumas escolas, por escolha, assim como a decisão de trabalhar com crianças previamente submetidas a testes também o é.
De uns tempos para cá, os discursos cada vez mais incisivos a favor da inclusão de crianças com necessidades especiais no sistema regular de ensino, para não falar na força da lei que garante esse direito, e o reconhecimento de que a homogeneidade de uma sala de aula é um mito, foram desqualificando a prática de selecionar os “melhores” alunos para com eles trabalhar. 
Com essa medida temos muito a comemorar porque muitas crianças estão sendo salvas de constrangimentos injustos e sacrifícios inadequados para enfrentarem os valorizados (!) testes de seleção.
Os muitos anos de experiência nos mostram que uma manhã, ou mesmo um dia, não bastam para atestar as capacidades de cada criança e esse, nem de longe, deve ser o aspecto considerado como o mais importante. Mais interessante é conhecer as crianças e suas famílias por um breve período e oferecer a elas a oportunidade de se aproximar da escola para usufruir do que ela tem para oferecer, para fazer perguntas, para perceber se há sintonia entre o que conseguem captar e as expectativas que têm em termos de ensino e proposta de formação.
Principalmente as crianças pequenas precisam ver sentido no que fazem, devem ser cuidadas na sua autoestima e respeitadas em suas percepções, afinal, estão começando a vida escolar e formando vínculos de confiança na própria capacidade de aprender. Assim, ao longo do processo pedagógico, que deve ser planejado com cuidado, elas vão se engajando nos momentos em que precisam se dedicar aos deveres e se esforçar, sentar-se adequadamente, aumentar os seus tempos de concentração, pensar e fazer descobertas e cumprir o que foi combinado com o grupo.
Mas sem descartar a imaginação, a brincadeira, e, mesmo, o prazer. 
É muito compensador constatar o crescimento das crianças que, por estarem inseridas em um grupo, têm potencializadas suas trocas de experiências, sua capacidade de entendimento, suas vivências de amizade e de sentimentos, suas habilidades de convívio, além de progressos cognitivos.
É bem verdade que a variedade de alunos da sala de aula nos mostra crianças de ritmos, interesses e momentos diferentes.
Vemos que algumas estão justamente querendo o que está sendo oferecido em termos de conhecimento formal, de exigência, de desempenho em determinado tempo, de sequência de tarefas; e, outras precisam de maior esforço para se inserir no dia a dia de trabalhos de sala de aula e de compromisso com os deveres de casa, além daquelas que apresentam dificuldades específicas mencionadas em diagnósticos.
Por tudo isso, é preciso ressaltar o papel fundamental da professora nesse início da vida escolar. Sua mediação atenta é responsável por dosar as exigências, estimular o esforço, contornar o desânimo, criar alternativas, fazer avaliações, sobretudo positivas, destinadas às crianças que precisam de mais empenho para trabalhar. E o que dizer do vínculo forte de afeto e carinho que se forma entre os alunos e ela?
O dia a dia do trabalho escolar, em sua complexidade, não pode se deixar enganar por momentos pontuais de testes de desempenho, pois é o processo cotidiano o verdadeiro revelador, o nosso valioso trunfo. Daí que, medidas como essas, mencionadas no início, recuperam o respeito que todas as crianças merecem, e contemplam o orgulho das escolas que fazem valer as suas crenças e já, há tempos, vêm se preparando para trabalhar com crianças muito diferentes entre si.

ELAINE DECCACHE PORTO E ALBUQUERQUE é orientadora da Educação Infantil e do Fundamental do Colégio Teresiano

Do site Pauta Social

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