Demétrio Sena, Magé - RJ.
Aprendi a valorizar as pessoas pelas aparências. A partir da intensidade na luz dos olhos negros ou verdes, azuis ou castanhos de quem fala comigo. Valorizo também os traços enrugados ou lisos da pele negra ou parda, vermelha ou amarela de quem se deixa esquadrinhar. De qualquer indivíduo que transparece; não esconde virtudes nem defeitos. Deixa bem evidentes as intenções sinceras que o identificam.
É pelas aparências que agora sei amar. Amo através dos gestos que salientam conceitos; do sorriso franco e da cara feia dos que não mascaram sentimentos... têm à flor-da-pele as alegrias e tristezas... satisfações e rancores. Bebo cada palavra dos lábios convincentes de quem fala com o coração... ou cada silêncio da expressão inequívoca dos que sabem quando é melhor dizer sem falar.
Valorizo as aparências, porque aprendi que pessoas verdadeiras mostram quem elas são. Dão espetáculos contidos ou espalhafatosos, intensos ou leves do que levam no peito. Seus corpos não contradizem as almas. Os olhos refletem perfeitamente os estágios do espírito. Na verdade, mais do que olhar ou ver, aprendi a decodificar as capas, abrir pessoas e captar essências... ler tudo aquilo que as compõe.
Já não sou analfabeto. Venho tendo boas notas. Estou me formando em gente. Minha vida mudou, as pessoas estão mais simples aos meus olhos e cabem quase perfeitamente no meu entendimento. Tudo graças ao fato de que aprendi que as pessoas são livros e valem a pena quando não se fecham. Não se trancam em suas capas. Quando se deixam transparecer nas aparências.
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