Há uma passagem bíblica na qual Jesus Cristo afirma que se os seus seguidores não clamarem as pedras clamarão. Isso quer dizer, na prática, que se aqueles que pregam o bem e a justiça não viverem o que pregam, veremos os maus pregando o bem e, algumas vezes, praticando-o mais do que os bons. Há poucos dias vimos algo parecido. Um bandido pregando o bem. Falando sobre responsabilidade social. Um traficante de drogas dizendo que o crime não compensa e elogiando o presidente Lula porque através das obras do PAC transformou dezenas de servidores do tráfico em trabalhadores da construção civil.
Em entrevista concedida no dia 4 de novembro á jornalista Ruth de Aquino, da Revista Época, o traficante Nem – Antonio Francisco Lopes – diz, por exemplo, que as UPPs são boas para as favelas, e que o Rio precisava mesmo de um projeto assim. Mas emenda que o projeto tem problema, porque os policiais são mal remunerados, e alguns acabam cedendo às tentações da propina. Também afirma que só a presença de policiais não adianta. É preciso haver ginásios de esporte, escolas e oportunidades para todos. A repórter também narra que ao se encontrar com o traficante ele conversava com um pastor. Pedia que não desistisse de certo rapaz viciado e afirmava que a igreja não pode desistir de recuperar alguém.
Nem é pai de sete filhos, sendo dois adotivos. Ele disse à repórter que admira o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame e o define como um dos caras mais inteligentes que já viu, além de afirmar que se houvesse mais pessoas assim tudo seria melhor. O traficante ainda afirma que ele e outros querem largar a vida do crime. Gostaria de fazer programas com a família sem medo de ser perseguido ou morto. “Queria dormir em paz. Levar meu filho ao zoológico. Tenho medo de faltar a meus filhos”. Ainda garantiu não negociar crack, porque destrói as pessoas, as famílias e a comunidade inteira, com a justificativa de que conhece gente que usa cocaína há 30 anos e “funciona”, mas que com o crack as pessoas assaltam e roubam tudo na frente.
Por fim, Nem diz à repórter que seu ídolo é o ex-presidente Lula, que, segundo ele, é quem mais combateu o crime, por causa do PAC. Lembra que na época cinquenta dos seus homens saíram do tráfico para trabalhar nas obras e nenhum voltou porque todos viram que tinham trabalho e futuro na construção civil. Outra lembrança forte é a de que quando entrou para o tráfico, sua filha tinha 10 meses e uma doença raríssima e precisava colocar um cateter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário