domingo, 13 de novembro de 2011

A “CONSCIÊNCIA SOCIAL” DE UM BANDIDO

Há uma passagem bíblica na qual Jesus Cristo afirma que se os seus seguidores não clamarem as pedras clamarão. Isso quer dizer, na prática, que se aqueles que pregam o bem e a justiça não viverem o que pregam, veremos os maus pregando o bem e, algumas vezes, praticando-o mais do que os bons. Há poucos dias vimos algo parecido. Um bandido pregando o bem. Falando sobre responsabilidade social. Um traficante de drogas dizendo que o crime não compensa e elogiando o presidente Lula porque através das obras do PAC transformou dezenas de servidores do tráfico em trabalhadores da construção civil.
Em entrevista concedida no dia 4 de novembro á jornalista Ruth de Aquino, da Revista Época, o traficante Nem – Antonio Francisco Lopes – diz, por exemplo, que as UPPs são boas para as favelas, e que o Rio precisava mesmo de um projeto assim. Mas emenda que o projeto tem problema, porque os policiais são mal remunerados, e alguns acabam cedendo às tentações da propina. Também afirma que só a presença de policiais não adianta. É preciso haver ginásios de esporte, escolas e oportunidades para todos. A repórter também narra que ao se encontrar com o traficante ele conversava com um pastor. Pedia que não desistisse de certo rapaz viciado e afirmava que a igreja não pode desistir de recuperar alguém.
Nem é pai de sete filhos, sendo dois adotivos. Ele disse à repórter que admira o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame e o define como um dos caras mais inteligentes que já viu, além de afirmar que se houvesse mais pessoas assim tudo seria melhor. O traficante ainda afirma que ele e outros querem largar a vida do crime. Gostaria de fazer programas com a família sem medo de ser perseguido ou morto. “Queria dormir em paz. Levar meu filho ao zoológico. Tenho medo de faltar a meus filhos”. Ainda garantiu não negociar crack, porque destrói as pessoas, as famílias e a comunidade inteira, com a justificativa de que conhece gente que usa cocaína há 30 anos e “funciona”, mas que com o crack as pessoas assaltam e roubam tudo na frente.
Por fim, Nem diz à repórter que seu ídolo é o ex-presidente Lula, que, segundo ele, é quem mais combateu o crime, por causa do PAC. Lembra que na época cinquenta dos seus homens saíram do tráfico para trabalhar nas obras e nenhum voltou porque todos viram que tinham trabalho e futuro na construção civil. Outra lembrança forte é a de que quando entrou para o tráfico, sua filha tinha 10 meses e uma doença raríssima e precisava colocar um cateter.

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