O curta metragem "TEAR", que retrata as memórias dos operários têxteis de Santo Aleixo - Magé/RJ, foi exibido gratuitamente no dia 23 de fevereiro na sede do sindicato da categoria. Um relato emocionante que mostra um pouco da história do Município de Magé. O release abaixo foi enviado por email ao REDATOR por Felipe Ribeiro, de Santo Aleixo.
Multidões tomam as ruas das principais capitais do país. Na frente das manifestações, militantes de esquerda entoam cantos e levantam faixas com frases de protesto. Em meio à multidão são içadas bandeiras vermelhas, denunciando assim a postura radical de seus possessores. Em que ano estamos? Garanto, não estamos em 2013. Voltemos 50 anos atrás em um exercício de regressão através de manchetes de jornais e aterrizaremos no ano de 1964, às vésperas do golpe civil militar.
Embora muitos registros tenham sido perdidos em apreensões e incêndios durante o golpe, fatos ocorridos em regiões centrais do país contam com vasto material de arquivo, imagens e relatos que deram origem a livros, filmes documentais e de ficção. Porém, algumas questões seguem até agora pouco abordadas: o golpe civil militar no Brasil foi um fenômeno que atingiu apenas as grandes capitais do país? O que aconteceu em 1º de abril de 1964 no interior do Rio Grande do Sul, de Pernambuco e do Rio de Janeiro?
O documentário curta-metragem “Tear”, de Taiane Linhares, reúne relatos de moradores do município de Magé, na Baixada Fluminense, na busca de respostas para algumas destas questões. Durante a primeira metade do século XX, Magé foi um município movido pela indústria têxtil, contando com 5 fábricas desse segmento, sendo duas delas situadas no distrito de Santo Aleixo. A princípio, um vilarejo tranquilo que recebia trabalhadores de todo o país em busca de estabilidade na atividade fabril. Em uma análise atenta, no entanto, Santo Aleixo era citada pela imprensa de esquerda do Rio de Janeiro como um palco em ebulição da luta de classes, na época em que a ideologia comunista ganhava espaço no movimento operário. O distrito, conhecido como Moscouzinho, abrigava o Sindicato dos Trabalhadores Têxteis da região, que contava com corajosos líderes, entre os quais se destaca a figura de Astério dos Santos.
A ideia do documentário surgiu com o retorno da diretora, Taiane Linhares, para Santo Aleixo depois de 6 anos estudando no Rio de Janeiro. O choque de estilo de vida a motivou a buscar um laço de identificação entre ela e o local onde sua família há mais de dois séculos havia se estabelecido. As histórias sobre um passado de lutas operárias haviam sido contadas por sua avó, sempre de forma vaga, durante a infância. Essas lembranças a impulsionaram a realizar a pesquisa que culminaria no documentário. As conversas com a avó a levaram a velhos operários e operárias que, cautelosamente, começaram a falar sobre suas histórias privadas e suas lembranças traumáticas da ditadura civil militar. Neste processo, a diretora chegou ao historiador Felipe Ribeiro, pesquisador do tema que também nasceu em Santo Aleixo e cuja pesquisa conta com uma motivação bastante singular. Felipe Ribeiro é neto de Astério dos Santos, líder sindical aclamado até hoje pelos ex-operários da cidade. A linha narrativa do filme pôde então ser desenhada: Felipe Ribeiro é o personagem que nos leva através de seu conhecimento acadêmico e de seus relatos pessoais em um mergulho na década de 60. O cenário é o Sindicato, antigo território de lutas, que hoje abriga o clube da Terceira Idade, composto em grande parte por ex-operários que se reúnem aos sábados para dançar forró e bolero.
Treze foram os entrevistados para a realização do documentário, resultando em mais de 20 horas de gravação. A equipe foi formada por profissionais do audiovisual amigos da diretora. Um filme sem apoios institucionais, que foi realizado - da pesquisa à edição - à base da coragem e da motivação da equipe. No momento, a divulgação é feita por pessoas e instituições interessadas em que discussões sobre os impactos da ditadura em nossa sociedade e cultura se realizem de forma sincera, sem mediadores e através de suas próprias narrativas.
Um olhar descentralizado para o passado para entender o presente: é a esse exercício que o documentário “Tear” se propõe.
A primeira exibição do documentário em Magé contará com a presença dos entrevistados, integrantes da equipe e pesquisadores. A ação tem o apoio do Movimento Pró Cultura Magé, que tem por objetivo principal ser um coletivo de artistas, pensadores, agentes culturais dentre outros profissionais interessados na cena cultural da cidade. O Movimento tem como proposta fomentar aspectos importantes do fazer artístico, tais como: A dimensão cidadã do profissional da cultura, a profissionalização do mesmo e o fomento à produção local.
Ficha Técnica
Diretora e Produtora: Taiane Linhares
Assistente de Direção: João Xavi
Diretor de Fotografia: Ricardo Schmidt
Som Direto e Editor de Som: Caio César Teixeira Loures
Editor: Fabiano Soares
Contatos: Taiane Linhares: taianelinhares@yahoo.com.br
Skype: taiane.linhares
Alexsandro Rosa: sandro_belasartes@hotmail.com
Telefones: 21- 984272992/983555923 Felipe Ribeiro: felipe_ffp@yahoo.com.br/ 98533-8541
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